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Contos, crônicas e poesia.

Textos

EU TE AMO
         Falar sobre essa frase que é tão comum porque todos conhecem e tão forte que tem o poder de mudar o mundo, vale esta gíria antiga: “Estou em papos de aranhas”.

          Sob muitos olhares e pensamentos que sabe se lá quais: pena, desdém, raiva, repulsa..., entraram escoltados no fórum, alguns presos, algemados, acorrentados e em fila. Ouviu-se, gritada lá de fora, a frase: “Fulano, eu te amo!” Era dirigida a um deles.

          No contexto nada engraçado, a frase “eu te amo!”, gritada, soou “engraçada”. Não se conhece o coração de quem gritou. Não se conhece o coração para quem se gritou. Não se conhece os corações dos que ouviram. Dá para imaginar, que em relação àquele preso, possa ter sido somado o sentimento de inveja em alguns dos corações ouvintes. Inveja do “miserável” em sua “miséria”? Dá para acreditar? Tivesse ele consciência disso e fosse uma criança lá na minha infância, diria cantando: “Eu tenho, você não tem”.    

          Adulto, vivido, esfregado pela vida, assim como todos somos, talvez nem tenha ouvido. Talvez não tenha acreditado. Talvez tenha ironizado. Talvez tenha sim se sentido feliz.

          Quem diz “eu te amo”, espera ouvir “eu te amo”, nada mais vale. Não vale dizer “eu também”. Isso foi tratado em um filme de grande projeção (Ghost).

          Tão fácil de entender, tão difícil de dizer. Está aí! Dificuldades. Conseguir compreender as dificuldades do outro pode pegar mais forte do que o simples “eu te amo!” Quem há tempos não ouve tal frase, não deve se sentir diminuído. As palavras nem sempre expressam a verdade. As mentiras também são formuladas em palavras.

          O “eu te amo!”, gritado, falado, escrito... não terá valor algum se não houver lastro. O amor não se ampara em palavras simplesmente, ele pode muito bem ser destruído por elas. O amor não é só o que acontece na cama. É tudo o que se passa nas vinte e quatro horas de todos os dias.

          Se o meu amor me disser “eu te amo!” o que me vai fazer acreditar não são as palavras e sim a quantidade de sal que comemos juntos. Era assim que diziam nos tempos dos meus avós.  
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 07/07/2020
Alterado em 15/08/2020
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