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NÃO FOSSE O PALAVRÃO...!
Naquele tempo em que chegamos na metrópole paulistana, a principal zombaria que faziam da gente, era de que os mineiros eram facilmente enganados, que compravam viadutos, etc..

No nosso caso, comprar viadutos não seria viável, mas em “contos do vigário” de menores proporções, caímos muitas vezes. Éramos presas fáceis para os espertos vendedores de enciclopédias.

Molecão, doze anos e pouco, fui ajudar um vizinho na pintura de uma casa no bairro de Utinga; trabalhei com ele alguns dias na tal casa.

Naquela sexta-feira, como em todos os outros dias, o meu almoço seria um sanduíche de mortadela e uma tubaína, o dinheiro só permitia isso e a passagem do ônibus.  

Desci do telhado onde fiquei a manhã inteira raspando e lixando calhas, sob sol escaldante; fui pegar o dinheiro no bolso da calça limpa e o bolso também estava limpo, perdi o dinheiro.

Trabalhei o resto do dia sem o sanduíche, sem a tubaína, a passagem de volta o “patrão” me emprestou. Era o dia do acerto, ele me pagou direitinho, descontou o empréstimo da passagem, o que era justo.

Na época existia o péssimo costume de se escrever em notas, e por causa desse costume, percebi que eu não tinha perdido o dinheiro do almoço e da condução, pois entre as notas que o patrão me entregou em pagamento, reconheci facilmente uma, pois nela haviam escrito um palavrão e ela estava comigo naquela manhã.

No início da noite, seguindo a rotina, o vizinho, em seu terninho e gravata, com sua bíblia embaixo do braço, saiu acompanhado da família rumo ao culto.  
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 22/07/2020
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