Até que entendo um pouco de eletrotécnica e eletrônica, nunca exerci a profissão, embora tenha cursado. Entendo um pouco porque a evolução tecnológica deixou o meu conhecimento reduzido a quase nada.
          Todas as casas tinham, normalmente na sala, que era a entrada, a chave geral. Muito rudimentar em relação aos djuntores  de hoje em dia. Eram facas paralelas moveis sem nenhum isolamento. Nessas chaves eram rosqueados os fusíveis de porcelana com fio de chumbo. A frequente instabilidade da rede elétrica causava muitas queimas dos fusíveis e nas trocas acidentes aconteciam, às vezes, graves.    
          Das  figuras exóticas que passavam por aquela rua, o Lázaro era talvez a principal.  
          O Lázaro passava carregando nas costas os colchões que fabricava.  Era dessa forma que ele entregava na cidade inteira as suas encomendas. Colchões de tecido recheado com capim. Chamavam de acolchoado. Ele tremia de forma inexplicável. Não era um tremor nas mãos, comum de se ver, mas o corpo inteiro, como se estivesse com muito frio, mas era assim seja lá qual fosse a situação climática. Não parecia ter problema mental comprometedor, pois negociava normalmente. Ele mesmo é quem fazia os colchões. Não era só isso que fazia dele uma figura enigmática. Frequentava a missa das sete da manhã diariamente, mas parece que dormia demais, pois quase todos os dias ele passava chorando e dizendo: eu perdi a missa… eu perdi a missa… eu perdi a missa. Não, não era só o tremor que era direto, sem cessar. Ele também chorava sem parar. Não parava de chorar em momento algum, nem quando negociava. O mais estranho de tudo, eu digo até, místico; que o meu parco conhecimento em eletricidade não conseguiu explicar, é o fato dele entrar nas casas e colocar as mãos nas chaves elétricas e ficar por minutos sentindo a descarga, como se estivesse absorvendo aquela energia. O Lázaro era muito querido por todos dali. Ele era um pés descalço. Que fim terá tido o Lázaro?