Nascemos no mesmo lugar, em datas com menos de um ano de distância, ele mais velho. Nosso nome era o mesmo, o que diferenciava era o sobrenome. Fomos amigos desde lá na roça até na metrópole onde nossas famílias acabaram sendo vizinhas de bairros.
Perambulamos juntos pela cidade grande com nossas caixas de engraxar. Tive uma enormidade de atividades, ele não, a família dele não carecia.
Ele quis, eu arranjei para ele trabalhar na oficina que eu trabalhava, ficou um tempo e não se adaptou.
Estava procurando emprego eu disse a ele que os Correios estavam com vagas para carteiro, ele me disse um sonoro e grosseiro: "carteiro não!!". Fiquei chateado e pensativo. Não por isso, mas nossa amizade se perdeu no tempo. Ele nunca mais trabalhou.
Vinte anos depois, estava eu em uma festa de aniversário de um familiar. Somente pessoas queridas.
Um jovem da minha maior estima, tinha sido demitido do banco onde trabalhava. Estava procurando emprego, eu disse a ele que os Correios estavam com vagas para carteiro. Recebi na lata um veemente "carteiro não!!" a mãe dele que estava do lado, reforçou: "carteiro não"!! nem tive tempo de me chatear, pois me veio na memória o que havia acontecido há vinte anos. Fiquei foi intrigado de como um acontecimento idêntico poderia acontecer, ainda com pessoas muito diferentes. Aquele jovem nunca mais trabalhou e não trabalha até hoje, tem esquizofrenia.
Mais ou menos dezessete anos depois, na quitinete que meu filho e minha filha residiam, já que cursavam em universidades de Campinas; as mulheres tinha ido fazer aquilo que adoram, visitar as lojas de roupas, eu contei para o meu filho esses fatos que narrei acima. Estávamos no quarto e ele foi até a cozinha e de lá me gritou: "pai, você té de brincadeira comigo, né?" Como assim? Perguntei! Ele me trouxe um panfleto que alguém havia passado por debaixo da porta, onde anunciava que os Correiros estavam promovendo concurso para contratar carteiros. Isso é coincidência?