Não faz muito tempo eu testemunhei dois homens chorarem. Não foi choro pela morte de alguém ou por qualquer outra perda importante. Em ambas as situações foram choros emocionais.

          Precisei pedir um grande favor a um senhor. Ele não era meu amigo pessoal, o nosso contato era meramente profissional. Fui com um pouco de receio e me surpreendi. Quando disse a ele do que eu precisava, vi na sua expressão uma grande satisfação. Na mesma hora parou o que estava fazendo e passou a redigir o documento que eu pretendia. Saí de seu escritório muito contente pelo recebimento que tive e por ter percebido a sua alegria em me servir.

          Como valorizo muito a gratidão, quando tive a notícia de que tudo havia saído como eu esperava, fui o mais rápido que pude lhe comunicar e agradecer. Falei a ele do sucesso conseguido e ele de imediato começou a chorar. Em nenhum momento imaginei que ele fosse se emocionar daquela maneira. Eu não sei, mas penso que é possível que eu tenha sido a última pessoa a vê-lo chorar, pois ele que já se encontrava muito doente, faleceu um pouco depois.

          Parei o carro em uma avenida, em frente, do outro lado fica uma padaria. Sentado dentro do carro, de cabeça baixa organizava o meu roteiro. Não vi se o sujeito saiu de dentro da padaria, pois quando percebi ele já estava no canteiro central vindo em minha direção. Não tive tempo de pensar em nada, também não senti nenhum temor, ele é um empresário conhecido e eu fiquei tranquilo. Chegou bem perto da porta do carro e quis conversar, mas começou a chorar. Depois de passada a emoção,  disse-me que queria me agradecer por eu tê-lo tratado com muito respeito nos momentos mais difíceis de sua vida, que foi quando sua empresa estava falindo e suas dívidas nos bancos eram enormes. Disse-me que compreendia as peculiaridades do meu ofício e que eu era o exemplo de que é possível exercê-lo com respeito e sem nenhum tipo de humilhação.  Agradeci dizendo que respeito a ele ou a outros era da minha obrigação e que eu não saberia agir diferente.

          Dois homens um tanto mais velhos que eu, choraram diante de mim. Um a quem fui agradecer por um importante favor e o outro ao me agradecer por algo que eu não esperava.

          Aos que não me conhecem de perto, digo que sou bem parecido com os dois homens que mencionei.