Acontecem coisas na vida da gente que nos levam a interrogações, por que será? Como e qual o sentido?
          Lá por volta dos meus dezoito anos, meu pai, que era um homem simples e de pouca escolaridade, pegou o costume de fazer desenhos de rostos humanos. Os desenhos eram todos feitos com caneta esferográficas(Bic). As expressões dos rostos eram características. Traços fortes e ângulos retos. Bigodes, sobrancelhas, costeletas... tudo sempre muito carregados. Não importava quantos desenhos fizesse, pareciam sempre a variação do mesmo.
          Nesse período, eu utilizava o transporte coletivo para ir trabalhar. Nossa casa era bem em frente ao ponto final do ônibus. Nosso bairro era grande e populoso. Saindo dali, no terceiro ponto, quase sempre naquele horário entrava um sujeito, que aparentava alguns anos mais velho que eu, e o sujeito me fazia lembrar dos desenhos do meu pai. Quando olhava os desenhos sempre lembrava daquele homem. Eu comentava sempre lá em casa, essa aparência.
         Pedi demissão do emprego e logo em seguida me empreguei em uma concessionaria da Volks na cidade vizinha São Bernardo do Campo. Para a minha surpresa, dei de cara com aquele homem. Ele tinha a mesma profissão que eu.
         Trabalhamos juntos, ficamos amigos e depois sócios por dezesseis anos em uma oficina.
         Mudei de profissão e depois de região e essa amizade ficou perdida no tempo.
         Acho no mínimo intrigante, ter "conhecido" antes, alguém que na verdade viria a conhecer depois, lá longe do local onde morávamos e ainda a coincidência das profissões. E os desenhos, que fizeram a primeira ponte entre nossas famílias?