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Contos, crônicas e poesia.

Textos

CACHORRO ESPERTO
           Já escrevi aqui sobre o tempo em que trabalhei na feira livre. Tantos acontecimentos lá que seria impossível narrar aqui em poucas linhas.
           O proprietário da banca com quem trabalhei, era um sujeito a ser analisado, face ao seu modo de ser e se comportar. No princípio eu tinha um grande respeito por ele, ele era o patrão e eu um menino inocente, acho que até tinha medo e não respeito; depois de alguma convivência, aquele sujeito bravo, nervoso, demonstrou ser apenas um cão que ladrava e não mordia.
           Falando em cão, ele certa vez quis arranjar um cachorro para vigiar o quintal de sua casa. Depois de muito observar nos locais onde fazíamos as feiras, ele acorrentou, em um desses lugares, um cachorro vadio. Sim, ele fez isso depois de ter certeza que o cão de fato não tinha dono. Ele era meio metido a nervoso valente, mas no fundo morria de medo de se meter em encrencas. Lembro de ter observado aquele cachorro e achado que não seria útil para o fim pretendido.
           O cão era de rua, vivia pelo bairro sobrevivendo de qualquer  coisa que encontrava pela frente, levou para dentro do quintal do patrão todos os seus vícios, e de cão de guarda não tinha nada, mais dócil impossível. Em um curtíssimo prazo o homem decidiu que precisava se livrar do coitado. No dia da feira lá no bairro onde ele foi "capturado" kkk, levamos e o deixamos por ali no meio daquele movimento todo. O cachorro aproveitou bem a sua liberdade, desapareceu da nossa frente. Encerrada a feira naquele dia, caminhão já na garagem da casa, surge o cão, pula a cerca e vai se deitar tranquilo embaixo do caminhão, a cara de desconsolo do homem me obrigou a sufocar o riso que queria a todo custo virar gargalhada. A solução de problema definitivamente seria no próximo domingo, disse o patrão.
            Domingo fomos para a feira do Taboão, bairro da capital paulista, próximo ao zoológico, há uns vinte quilômetros de distância da casa. O percurso era bem intrincado, incluindo alguns quilômetros pela Via Anchieta, rodovia muito movimentada já naquela época. O cão foi solto ali no meio daquele mundéu, despareceu. Na terça feira, quando retornamos da feira do dia, para a nossa surpresa e admiração,  lá estava bem folgado o cão assistindo a nossa chegada.  
            Ainda me pergunto como o cachorro achou o caminho de volta. Ele foi levado dentro do caminhão, embaixo de uma lona.
            Acabou sendo uma adoção sem retorno.    

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JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 22/09/2020
Alterado em 22/09/2020
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