MÁRCIA (mini conto)
Rua Argonauta Rabelo 107, um edifício mau zelado e mal falado.
Cada porta uma delas em pé feito sentinelas aguardando ser a preferida de alguém entre os visitantes. Sorte para o sustento diário, azar para a dignidade humana já tão corrompida pela miséria estampada em suas faces, tal qual nas roupas quase sumidas no propósito de se tornarem atração. Cada rotineira rejeição surge em Márcia a expectativa de que o próximo não porá reparo na sua decadente aparência e lhe dará o minguado valor que sua condição lhe permite cobrar. Márcia é o seu nome nas ruas, longe de sua distante casa, do seu marido alcoólatra e seus dois filhos menores, acostumados com a ausência da mãe. Amanhece na casa de Márcia, pronta para sair ela olha seus filhos ainda dormindo, olha no espelho e decide reduzir o seu valor.
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 13/11/2020
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