CAVALOS TEM DISSO
Na rabeira do texto, uma coisa puxa outra, que já tinha escrito há tempos e que resolvi publicar no Fc., que gerou alguns comentários interessantes e entre eles a indagação de um primo querido, se eu não tinha nada pra contar sobre cavalo quando resolve empacar, eu tenho, não lembro se escrevi sobre isso, então vou escrever, ou reescrever se já fiz e não me lembro. Não temo contradição, pois é verídico e a narrativa ainda que diferente, não fugirá da verdade. Não posso falar de cavalos se não falar do Russo, meu companheiro na infância, que me ensinou muito, que me deu muitas alegrias e me fez chorar quando foi vendido, choro repetido por bastante tempo, pois todos os dias ele passava diante da minha casa, conduzido por outro menino, um pouco mais velho que eu. Este pedaço da narração será bem interessante para alguns que eu sei que conhecem o lugar, mesmo que tudo esteja diferente, lá se foram uns sessenta anos mais ou menos. O caminho principal, a estrada por onde passavam os carros e outros meios de transporte, entre Campestre e o bairro rural Divisinha, ali onde existia uma porteira dividindo a “fazenda” do Beijo, não sei se era fazenda, tinha somente uma casa grande, da propriedade dos Emboavas, era assim que se pronunciava, mas Minas é Minas, não tenho certeza que era esse de fato no nome da família. Foi ali na tal porteira que aconteceu a causa dessa minha história. Gosto demais de cavalos, quando queria, não pude ter um verdadeiramente meu, por vários motivos, não só financeiro, quando pude e agora posso, entendo que o tempo já passou e a balança que define entre o sim e o não, tende muito mais para a inconveniência. Cavalos, mesmo domados, podem oferecer riscos, sobretudo para quem não está acostumado. Quem tem juízo não monta em qualquer cavalo, a menos que seja muito seguro de si. Tem cavalo “desbocado” que não obedece comando e quando cisma coloca o cavaleiro em apuros. Naquele dia, minha mãe me encarregou de ir até a Divisinha, buscar um dinheiro, lembro que o valor era 50, talvez cruzeiros, na casa de um casal de tios, gente muito estimada por todos, e eu fui no Russo. O Russo era dócil, eu cavalgava nele sem nada, cabresto, rédeas, arreios. Era assim há anos. Naquele dia, naquela porteira entre o Beijo e os Emboavas, ele empacou, estacou de uma forma que não parecia ter jeito, não sei o que ele viu que se recusava atravessar. Lembro que tive que apear e com muito custo fazer ele me seguir puxado pelo cabresto. Foram dezenas de metros, depois montei e a viagem foi tranquila até o final. Penso que na volta, nem ele nem eu lembrou da tal porteira.
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 05/01/2023
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