A Saudade é um espinho que a gente não quer arrancar
Quem em algum momento, longo ou curto, conviveu comigo, com certeza percebeu que entre os meus muitos defeitos e algumas qualidades, o humor aparecia quando em vez. Talvez mais como defeito, talvez mais como qualidade. Até ontem éramos treze irmãos vivos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. A quantidade “treze”, muitas vezes causava espanto em alguém, que costumeiramente emendava a pergunta: Todos vivos? Era na resposta dessa pergunta, que eu também emendava com meu humor, plageando o Barnabé, humorista caipira, que a minha geração muito conheceu: “vivo só tem eu, os outros todos trabalham”. Essa minha resposta continha um sentimento, meio vaidade, meio convencimento, eu não sei explicar, mas penso que era no fundo uma grande alegria, os treze, todos vivos. Sei que de agora em diante, não poderei mais responder à tal pergunta da mesma forma. Nosso irmão Antônio, mesmo que muito vivo na nossa lembrança e no amor que sempre foi muito mais forte e preponderou sobre as divergências que surgiram nas nossas vidas, fisicamente não está mais entre nós, em seu lugar tem uma lacuna que nunca será ocupada nem apagada, tem na lacuna a sua marca única e exclusiva. Vou sim encontrar uma forma humorada pra dar a tal resposta, pode ser que eu tome vergonha e crie alguma coisa original, sem precisar plagear ninguém. O Barnabé era muito bom, então o suposto plágio não me envergonha não. Já está dito acima, mas repito para regar esse meu sentimento que parece vaidade, que parece convencimento, mas é sim alegria, alegria um pouco dolorida, ou bem dolorida pela ausência. Penso que só falando em amor é que dá para explicar alegria dolorida. Alegria, fundada nesse amor quase inexplicável, que sempre foi capaz de superar as dificuldades do caminho, capaz de curar as mais profundas feridas que eventualmente aconteceram, e dolorida a ponto de fazer jorrar tantas lágrimas nos rostos dos mais resistentes. As nossas conversas, as vivências que costumamos contar nos nossos encontros, haverão de continuar. Do Antônio, teremos sim coisas muito boas pra narrar. Nesse sentido, revelo aqui pra quem não sabe, e faço isso porque ele se divertia muito quando nos lembrávamos dos apelidos que ele ganhou nos tempos que éramos moleques. Apelidamos ele de Lider, personagem mau dos desenhos do Homem de Ferro. Ele riu muito disso e não faz muito tempo. Apelidamos também ele de “Marreta na Bigorna”, esse era o nome de um programa da rádio Aparecida, onde o padre, se não me engano, Padre Vitor Coelho, fazia uns sermões bem carregados, não sei porque foi parar nele esse apelido, ele também ria muito disso. Pra fechar, volto lá para o Barnabé, acho que era dele algo mais ou menos assim: “ Tião, vem logo armoçá sinão as criança come tudo”. Baseado nisso sempre “zoamos” nossa mãe, pois ela falava assim: “Antônio Carlos, chama as crianças e vem almoçar. Provocamos ela nas brincadeiras dizendo que era preferência.
JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 03/07/2023
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